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AFP | Imagens da audiência de Bento XVI com representantes das comunidades ciganas |
Cidade do Vaticano, 11 jun 2011 (Ecclesia) – Bento XVI recebeu hoje no Vaticano uma delegação europeia de diversas etnias ciganas e Rom, diante da qual pediu o fim das perseguições a estas comunidades, lembrando em particular o seu extermínio durante a II Guerra Mundial.
“Que nunca mais o vosso povo seja objeto de opressão, de rejeição e de desprezo! Pela vossa parte, procurai sempre a justiça, a legalidade, a reconciliação e esforçai-vos por nunca ser causa de sofrimento para os outros”, disse o Papa.
Evocando a sua visita ao campo de concentração nazi de Auschwitz, em 2006, Bento XVI aludiu aos “milhares de mulheres, homens e crianças” de etnia cigana que ali foram “barbaramente mortos”, naquilo que os ciganos chamam de ‘Porrájmos’ – a grande devoração.
Para o Papa alemão, este é “um drama ainda pouco reconhecido, do qual ainda dificilmente se medem as proporções”.
"A consciência europeia não pode esquecer tanta a dor", apontou.
O encontro foi promovido pelo Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, contando com a presença de uma cigana e três ciganos portugueses, das dioceses de Setúbal, Viana do Castelo, Guarda e Lisboa, acompanhados pelo diretor executivo da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos, Francisco Monteiro.
O Papa disse que a história deste povo é “complexa e, em muitos períodos, dolorosas”, recordando que até hoje permanece “sem pátria”.
“Persistem problemas graves e preocupantes, como as relações muitas vezes difíceis com as sociedades nas quais viveis. Ao longo dos séculos, conhecestes o sabor amargo do não acolhimento e das perseguições”, declarou aos participantes.
Bento XVI admitiu que hoje a “situação está a mudar”, com novas oportunidades para os ciganos e o reconhecimento de uma “cultura de expressões significativas” que “enriqueceu a Europa”.
Esse mesmo continente, “que reduz as fronteiras e e considera a riqueza da diversidade dos povos e das culturas”, convida o povo cigano a “escrever uma nova página na história”.
A audiência foi o primeiro ato da peregrinação dos ciganos europeus ao Santuário de Nossa Senhora do Amor Divino, em Roma, por ocasião dos 150 anos do nascimento do beato cigano Zeferino Giménez Malla (El Pelé) [1861-1936], e dos 75 anos do seu martírio.
Bento XVI convidou os presentes a seguir o exemplo do beato Zeferino, de forma a evitarem os “riscos” levantados pelas “seitas ou outros grupos” junto das comunidades católicas ciganas.
“A Igreja caminha convosco e convida-vos a viver segundo as exigências do Evangelho, confiando na força de Cristo, rumo a um futuro melhor”, concluiu o Papa.
Em nosso país, vivem cerca de 800 mil nômades. Desde sua chegada ao Brasil, a população cigana tem vivido uma realidade de rejeição, alimentada pela falta de conhecimento da sua cultura, das suas características e do seu modo de vida próprios. Embora usufruindo da cidadania no país, os ciganos, em sua maioria, são considerados cidadãos de segunda classe.
A Igreja no Brasil tem procurado viver esta experiência, buscando caminhos para ajudar os ciganos a encontrarem cada vez mais a sua dignidade, para que possam usufruir dos diretos que todo ser humano tem, independente de sua etnia.
Para isso, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil criou a Pastoral para os Nômades, cujo presidente é o bispo de Eunápolis, na Bahia, Dom José Edson Santana Oliveira. Ele conversou com a RV e nesta reportagem, analisa as dificuldades de integração, o seu sentir 'cidadãos do mundo' e os preconceitos da sociedade em geral em relação a esta comunidade.
(CM)
OC
http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?&id=86104
http://www.oecumene.radiovaticana.org/bra/articolo.asp?c=494223