quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Ciganos são a minoria menos amada em Portugal



Os ciganos constituem «a minoria menos amada em Portugal», apesar de estarem no país «há mais de 500 anos», afirma António Pinto Nunes, presidente da Federação Calhim Portuguesa e da Associação Cristã de Apoio à Juventude Cigana.

A propósito do Dia Internacional do Cigano, que se assinala esta quinta-feira, o responsável considerou em declarações à agência Lusa que «os maiores problemas da comunidade continuam a ser os de relacionamento».

«Muitas vezes o cigano não é bem aceite. Por culpa da pessoa ou da comunidade, ele continua a ser excluído», declarou António Pinto Nunes, adiantando que «a comunidade cigana é fechada também como meio de auto-defesa».

«Nós sabemos que somos a minoria menos amada em Portugal. Temos amigos que são de cor, conversamos com pessoas dos PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa], e apercebemo-nos de que, para o povo português, somos os últimos na escala. Estamos aqui há mais de 500 anos mas 90 por cento das pessoas não nos considera portugueses», lamentou.

Segundo o presidente da Federação Calhim Portuguesa [«calhim» significa «cigana» em romani, língua falada pela etnia], «qualquer estrangeiro que venha para Portugal conta com uma receptividade totalmente diferente, mesmo que não seja melhor do que os ciganos, pois entre eles também existirão boas e más pessoas, como entre nós».

«Logo ao início, os pais ensinam os filhos a temer e a desprezar os ciganos. Somos uns intrujas, na sua concepção, o que é lamentável», afirmou António Pinto Nunes, exemplificando que «basta ver num dicionário os significados de cigano, que ainda não foram apagados: vagabundo, ladrão, ladino».

Para comprovar a discriminação, o responsável apontou o caso «do Rendimento Social de Inserção e de outros proventos que vêm do Governo».

«O povo diz que só os ciganos é que os auferem, mas a percentagem de ciganos a receber esses subsídios é mínima. Todavia, quando se fala em restringir ou acabar com esses apoios, os holofotes viram-se logo para os ciganos», assegurou.

De acordo com António Pinto Nunes, a ideia de que os ciganos são geralmente vendedores ambulantes dedicados à contrafacção também tem cada vez menos fundamento.

«Um cigano, se há-de estar na rua a vender uma porcaria falsificada, agora recorre a um mercado. E há pessoas a trabalhar noutros serviços. Só que muitas vezes não nos apercebemos porque eles não podem denunciar a sua pertença à etnia cigana. Se um patrão ou os colegas souberem, vão excluí-los desse tipo de trabalho», afirmou.

Também a presidir à Associação Cristã de Apoio à Juventude Cigana, Pinto Nunes considera que «o Evangelho tem redimido, transformado a maneira de ser e de viver, de auferir proventos, de muitos elementos da comunidade».

«Muitas vezes os ciganos andavam armados, mas 50 por cento deles deixaram de usar uma arma para usar uma Bíblia», garantiu.

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Ciganos são alvo de discriminação, alerta a Amnistia Internacional

Os ciganos em Portugal continuam a ser marginalizados nos serviços públicos e a viver sem uma habitação condigna ou acesso a um emprego. Para além disso, a comunidade participa pouco na identificação e resolução dos seus problemas perante uma sociedade que não lhes dá voz e os discrimina.

O alerta é deixado pela secção portuguesa da Amnistia Internacional no dia em que a organização não governamental de defesa dos direitos humanos apela à União Europeia e aos seus Estados-membros para que «tomem iniciativas concretas para acabar com o ciclo de discriminação, exclusão e pobreza da etnia cigana».

O apelo surge na véspera da II Cimeira Europeia para a Inclusão do Povo Cigano, que se realiza na cidade espanhola de Córdova, e na sequência de um relatório da organização que denuncia os «desalojamentos forçados» e a «dificuldade de acesso à habitação» de ciganos na Bulgária, na Grécia, na Itália, na Roménia e na Sérvia.

Em declarações à Lusa, a presidente da secção portuguesa da Amnistia Internacional, Lucília José Justino, apontou que a comunidade cigana em Portugal continua a ter dificuldades em aceder a serviços públicos, nomeadamente de saúde, a necessitar de uma habitação condigna e possui pouca
escolaridade e escassas oportunidades de emprego.

Segundo Lucília José Justino, Portugal «não tem ainda abertura» para dar emprego a um cigano, que, por isso, «não tem interesse em estudar».

A secção portuguesa da Amnistia Internacional estima que existam no país 30 a 50 mil ciganos.

Há cerca de um mês, o comissário dos Direitos Humanos do Conselho da Europa, Thomas Hammarberg, alertara o Governo português para as condições de alojamento «deploráveis» dos ciganos, reclamando medidas e realçando com «preocupação» a discriminação de que são alvos.

http://diario.iol.pt/sociedade/ciganos-discriminacao-etnia-tvi24/1172616-4071.html

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